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- A noite das vozes femininas
Na segunda noite do festival de Monsanto deu-se prioridade as senhoras da música no Palco Delta Tejo. Susana Félix, Ana Moura, Ana Carolina e Nneka encheram o recinto com o poder da voz feminina, cada uma no seu estilo.
O vento parecia não querer dar tréguas na encosta da Ajuda, mas isso não afastou alguns milhares de pessoas que ontem marcaram presença no Festival Delta Tejo.
Pelas 20 horas, altura em que Susana Félix subiu ao palco principal, a confusão já era visível na zona de entrada do recinto, mas nada que indicasse uma lotação esgotada no interior.
A “Fintar a Pulsação”, Susana Félix abriu então as honras perante algumas centenas de simpatizantes da sua carreira. Já com algum leque de bons hits – parte deles graças à divulgação na ficção nacional, em termos de banda sonora – a cantora de Torres Vedras soube usar esse trunfo num fim de tarde de Verão, conseguindo arrancar algumas vezes um refrão reforçado da plateia.
Do alto da sua pequena mas grandiosa estatura, Susana desfilou, descalça e envergando um vestido páreo muito veranil, temas do álbum «Índigo», de 2006, tais como “Flutuo”, “Lua na Ponte” ou “Concílios”, revisitando pelo meio canções mais antigas, e dos primórdios da sua sólida carreira, como “Mais Olhos Que Barriga” e “Um Lugar Encantado”, mas rebuscando músicas mais recentes como “Amanhecer”. Na recta final, surgiu uma versão de “Hey Jude” e uma brincadeira com o tema da “Rua Sésamo”.
Félix é sem dúvida um nome feliz da música pop portuguesa e já algo incontornável que conquista facilmente pela sua postura despretenciosa e humilde e com um som harmonioso, melodioso e aprazível.
O fado à maneira de Ana Moura
Durante o jantar dançou-se uma morna com Nancy Vieira e a sua possante figura no Palco Jogos Santa Casa, mas a espera era para Ana Moura e Ana Carolina, a fadista portuguesa e a cantora brasileira, respectivamente.
A amiga de Prince, como também é agora conhecida, mostrou, sem esforço, o porquê de ser actualmente uma grande referência no fado, mesmo a nível internacional. Com um vestido ampulheta de cetim e um xaile preto, Ana Moura fez a sua própria interpretação do fado, como a própria referiu, de forma sentida e algo comovente, graciando temas como “Búzios”, “O Fado da Procura” ou “O Fado da Loucura”.
Tempo ainda de espreitar Os Mutantes na tenda secundária, um regresso algo aguardado da banda de rock psicadélico que é uma referência no Brasil. Apesar de reconhecer alguns clássicos do grupo, a plateia não os presenteu com mais do que um balancear de ancas e umas palmas generosas.
Ana Carolina com noite ganha
Já Ana Carolina teve, provavelmente, a maior audiência da noite. A música brasileira de voz grave teve uma prestação equilibrada, passeando pelas melodias mais conhecidas como “Quem de Nós Dois” ou “Pra Rua Me Levar”.
Emocionada com a recepção da audiência, a compositora de tom vocal singular, mostrou-se segura e dominadora da guitarra, levando para casa a noite ganha, pois as letras estavam na ponta da língua de quem estava ali claramente para a ver.
Nneka com falta de feeling
Curiosamente, após Ana Carolina abandonar o palco, grande parte da audiência fez o mesmo, deixando várias clareiras na encosta e pouco entusiasmo para Nneka, que se revelou a desilusão da noite, com um concerto desfalecido e desmaiado e uma postura mole e introvertida na sua própria música.
Tímida, mas com uma voz arrebatadora, a nigeriana errou ao optar por versões mais calmas, o que roubou alma e emoção ao espectáculo que se pedia cheio de feeling reggae dançável, com a excepção de “VIP” e “Heartbeat”, este último sendo o tema mais aguardado de Nneka, provocando mais uma debandada das pessoas em frente do palco no fim da música.
Depois de uma noite morna e suave em termos de ritmo e de actuações, comparando com a energia inesgotável de Carlinhos Brown e dos Buraka Som Sistema do primeiro dia, hoje espera-se um cartaz inteiramente dedicado aos sons do outro lado do Atlântico, com nomes como Martinho da Vila e Asa De Águia como chamarizes.
Fonte: Jornal Destak